DOCUMENTOS ESCRITOS

Documento A

 “É hoje um lugar-comum a afirmação de que o 25 de Abril foi um golpe de Estado militar que, pela ampla movimen­tação social a que deu lugar, se transformou em revolução. 
Mas mesmo o próprio golpe militar ultrapassou os modelos clássicos, normalmente mais orientados para valores de tipo «ordem e autoridade», enquanto o 25 de Abril se propunha, à partida, corrigir os vícios maiores do regime ditatorial que veio a derrubar, ou seja, a ditadura polí­tica, o subdesenvolvimento e a opressão colonial. 
Por isso atraiu a adesão popular, por isso despoletou um processo revolucionário.” 
Pezarat Correia
(*), em Revista Crítica de Ciências Sociais, Fevereiro de 1986 
(*) O general Pezarat Correia, major na altura do 25 de Abril, foi um destacado elemento do MFA.

PORTUGAL: DO ESTABELECIMENTO DA DEMOCRACIA À INTEGRAÇÃO EUROPEIA

Documento 1

 A opção europeia – perspetiva de Álvaro Cunhal (1980)
" É uma visão idílica imaginar que o Mercado Comum é uma associação de países ricos filantrópicos prontos a «ajudar» os países mais atrasados. […] Os países do Mercado Comum defendem os seus interesses próprios e a esses interesses estão prontos a sacrificar os interesses dos outros países. Quando defendem ou admitem o alargamento do Mercado Comum a Portugal, Espanha e Grécia, não é para ajudarem os países que estão fora, mas para que a entrada desses países sirva os interesses dos nove que já lá estão dentro. […] Procuram apresentar o Mercado Comum como uma zona de desenvolvimento, de progresso, de bem-estar e de pleno emprego. Em vez de desenvolvimento harmonioso, equilibrado e progressivo, acentua-se a desigualdade do desenvolvimento, a estagnação, a recessão em importantes sectores e a queda progressiva da taxa de desenvolvimento geral. […] Com os problemas existentes no Mercado Comum, a integração de Portugal faria pesar sobre o nosso país numerosos fatores da crise […]. O Mercado Comum procuraria fazer estagnar, submeter, absorver ou liquidar sectores da economia portuguesa concorrentes com os sectores em crise no Mercado Comum [...] e procuraria apropriar-se dos recursos portugueses. Uma tal associação em termos de desigualdade e sem reciprocidade de vantagens não interessa a Portugal. Por isso mesmo estamos contra. […] Nós, comunistas, não aceitamos que as decisões acerca dos problemas nacionais caibam ao imperialismo, caibam ao estrangeiro. Quanto mais se aprofunda o estudo e a análise, mais se fortalece a certeza de que a integração de Portugal […] representaria a […] restauração dos monopólios."

Documento 2

 A opção europeia – perspetiva de Mário Soares (1985)
" Para Portugal, a adesão à CEE representa uma opção fundamental por um futuro de progresso e de modernidade. Mas não se pense que seja uma opção de facilidade. Exige muito dos portugueses, embora lhes abra simultaneamente largas perspetivas de desenvolvimento. Por outro lado, constitui a consequência natural do processo de democratização da sociedade portuguesa, iniciado com a Revolução dos Cravos, em 25 de Abril de 1974, e igualmente da descolonização que se lhe seguiu, feita com atraso de vinte anos em relação aos outros países europeus [...]. A tarefa primordial que nos ocupará a partir de agora será a de reduzirmos cada vez mais a distância que ainda nos separa dos países desenvolvidos da Europa, criando para os portugueses padrões de vida e de bem-estar verdadeiramente europeus. […] Principais beneficiários da integração europeia, os jovens terão agora de saber mobilizar-se para a grande tarefa nacional do desenvolvimento e da modernização, por forma a que Portugal venha a ser não só terra de liberdade, de convivência cívica e de tolerância, mas também um espaço de prosperidade, de desenvolvimento científico e tecnológico e de justiça social. Honro-me de ter sido quem assinou, em nome do governo da República, o pedido de adesão de Portugal à CEE, em março de 1977. […] Nas mãos […] de todos os portugueses […] está o futuro de Portugal, para cuja construção não faltarão, a partir de agora, os estímulos e as ajudas necessárias. Não estamos mais isolados. A solidariedade europeia não nos faltará, como hoje aqui ficou comprovado com a presença de qualificados representantes de todos os Estados da Comunidade."

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