No passado dia 15 de Abril, já em plena crise sanitária, recebemos a triste notícia do falecimento do Engenheiro António Alfredo Figueiredo.
"O António Figueiredo É, desde muito novo, uma personalidade forte, marcante carismática. Já era líder entre os seus contemporâneos. Como estudante, o seu rendimento escolar foi um sucesso e as mães e pais de Alfândega citavam-no como exemplo a seguir pelos seus filhos.
Frequenta a Academia Militar e após a tropa conclui o curso de Engenheiro Técnico Agrícola. Está em construção um dos melhores projectos agrícolas da nossa terra - o plano Alfa - liderado pelo Engenheiro Camilo Mendonça. Quando regressa a Alfândega, é nesse plano que o António participa e de onde sai prestigiado em conjunto com os seus colegas de curso que o acompanhavam. O seu caráter, relacionamento e cordialidade fazem dele o mais provável Presidente da Câmara (não fora o 25 de Abril).
Com o 25 de Abril, funda, conjuntamente com um grupo de homens bons, o PS de Alfândega da Fé e a sua referência política é Mário Soares. Por esta altura o nosso concelho é predominantemente de direita e elege um Presidente do CDS (Carlos Castro) a que se seguiram 3 mandatos do PSD liderado por Branco Rodrigues. Entretanto, o PS liderado por António Figueiredo foi apoiando sucessivas candidaturas, elegendo António Duque Dias e Álvaro José Lopes. Até que finalmente ele se candidata e serve como vereador na Câmara Municipal presidida por Branco Rodrigues. Este Presidente falece, não concluindo o seu terceiro mandato que é concluído pelo Sr. António Jesus Pacheco. As eleições seguintes, de 89, são o momento pelo qual o António tinha lutado tanto.
A eleição do primeiro Presidente da Câmara do PS. Concretizou, então, um dos seus maiores sonhos. O que vou dizer daqui para a frente é suspeito porque eu sou um dos intervenientes. A Barragem da Camba: era um sonho (então perfeitamente justificado) mas era também um atrevimento para uma Câmara Municipal. O António era um grande entusiasta e nós atrevemo-nos. A concretização desta obra deu-nos uma enorme credibilidade, o que conduziu a um conjunto de realizações que todos conhecem. Não iniciou este exercício como vereador a tempo inteiro mas quando se disponibilizou para o ser, assumiu, entre outros pelouros (pela sua área profissional) o dos espaços verdes, de que resultou a ampliação e qualificação do antigo Pinhal da Câmara mas também o Parque Verde, bem como toda a arborização em torno da obra pública. Outra área a que se dedicou foi a realização do primeiro PDM. Ainda não sabíamos bem o que isso era e acompanhou-me numa visita a uma cidade alemã - Neustadt - onde vimos pela primeira vez esse plano. Participámos em centenas de reuniões com diversas entidades (Ordenamento do território, JAE , Ministério da Agricultura, Ambiente, etc..)
E nasceu o nosso primeiro. Quando passarem pelo Parque Verde, pelo Pinhal da Câmara, pelas árvores envolventes das zonas públicas ou pelo PDM, lembrem -se dele. Seria fastidioso continuar a falar da sua atividade e empenhamento mas não resisto a contar aqui duas das muitas histórias que vivemos. Primeira história: Chegava eu de 15 dias de férias, tendo ficado o António a tomar conta da Câmara. Estava tenso e preocupado. Pediu-me para ir ao seu gabinete e revelou-me que a contabilidade lhe tinha dito que havia faturas para pagamento que ultrapassavam cento e tal milhares de contos e que não sabiam como se iriam pagar. Mandei os funcionários colocarem todas essas faturas em cima da secretária do António e de seguida fomos analisar uma a uma. Concluído o exercício, verificou que o compromisso da Câmara Municipal era afinal de cerca de 20 mil contos, o que cabia perfeitamente dentro das nossas possibilidades.
Manuel Cunha Silva